quarta-feira, 3 de março de 2010

o tecido temporal

O Cuipé delineia o barro, faz junções contundentes, como a expressão do peso, da força em se levantar. A cerâmica ganha altura, ganha espessura e uma pele lisa. Cada instrumento é uma estratégia, um fazer diante, e junto ao barro, que tem na conseqüência mundo, a coisa cerâmica. O silêncio é ouvido.

Cada casa traz seu reservatório de instrumentos, são os mesmos, as funções também. Alguém conta para alguém, todos ficam sabendo, um novo instrumento aparece. A noticia é espalhada, corre por linhas invisíveis do lugar, a cerâmica exibe maior força, é pertinente como manifesto e resistência. Uma arma revestida de barro, protege, sorri para si, e tenta conversar como de fora. Os conflitos aparecem.

A esponja molha com água a peça que vai se formando. Um ponto conhecido é alcançado, agora o barro prossegue por mãos de silêncio, amassada pelo barro, pelo fogão a lenha, a inchada e por imagens novas (conceitos e aviões). Água, barro e pele. Figuras que compõe uma estética da natureza, esta figura performática, de tecnologia e de sangue que escorre como vida pulsante. A natureza não é pura. É um vivido conflitante, vida para os mais íntimos.

O Cuipé hoje é de plástico (retirado do capacete automobilístico), ontem era de cabaça. O plástico dura mais. O tempo é mais veloz. O mercado volta os olhos para a cerâmica, ou o que dizem ser tradicional, um novo movimento se forma. Rostos alegres e tristes constroem uma paisagem subjetiva (desejo-crença, para os deleuzianos). O acabamento da peça é feito pela tampa de caneta marca texto. A cerâmica pronuncia uma voz que dialoga com o de fora. Uma expressão de como este lugar hoje se movimenta, uma família com novos vizinhos, alguns gostam, outros não, mas vem a necessidade da comunicação. Valores inflam o peito de muitos, e escurece a visão por raiva de outros. Estão cansados da exploração. Hoje dizem mais não dizem, como armamento no plano da língua (fala cotidiana com o “outro”).


Yan Chaparro - 2008


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