terça-feira, 29 de junho de 2010

imagens - ressonâncias

As fotos que seguem expressam esta ultima ida a São Gonçalo Beira Rio, momento que foi possível compor diálogos devolutivos e concretizar sentidos referente a experiência qualitativa, quando o cuidado ético com a a voz do Outro é a própria função do pesquisador, se tornando articulador cotidiano e interlocutor para com o encontro de textos externos.
O pesquisador não se movimenta acima ou atrás, mas ao lado, com o Outro. Se coloca na iminência tênue das ligações hibrídas e dos seus objetos. A pesquisa articula mão ético - políticas.

sentido

o sentido molda palavras, fumaça que se concretiza. Compõe partituras do absurdo. O Outro refaz seu próprio tecido.

alguem

no canto os objetos lembram humanos.

formas

o presente remete o que prossegue, formas temporais desenha espaços manuais.

movem - se

Na loja os movimentos se compõem como expressões cotidianas.

santos

São Gonçalo Nossa Senhora São Francisco: emendas da profundidade.

o campo


O campo entre - casas, o invisível que transpira aos olhos permitidos. Os fundos que circulam vozes fundamentais.

quarta-feira, 3 de março de 2010

leituras poéticas: narrativas em São Gonçalo Beira Rio.


Os dois textos que seguem foram produzidos em 2008, e fazem parte da experiência qualitativa construída com a pesquisa em São Gonçalo Beira Rio. Textos que configuram leituras do e no cotidiano.


Se desejamos que nossa pesquisa seja respeitada do ponto de vista histórico, é preciso que evitemos usar de forma superficial a língua destes atores em nossa próprias explicações (LATOUR, 1994).



o tecido temporal

O Cuipé delineia o barro, faz junções contundentes, como a expressão do peso, da força em se levantar. A cerâmica ganha altura, ganha espessura e uma pele lisa. Cada instrumento é uma estratégia, um fazer diante, e junto ao barro, que tem na conseqüência mundo, a coisa cerâmica. O silêncio é ouvido.

Cada casa traz seu reservatório de instrumentos, são os mesmos, as funções também. Alguém conta para alguém, todos ficam sabendo, um novo instrumento aparece. A noticia é espalhada, corre por linhas invisíveis do lugar, a cerâmica exibe maior força, é pertinente como manifesto e resistência. Uma arma revestida de barro, protege, sorri para si, e tenta conversar como de fora. Os conflitos aparecem.

A esponja molha com água a peça que vai se formando. Um ponto conhecido é alcançado, agora o barro prossegue por mãos de silêncio, amassada pelo barro, pelo fogão a lenha, a inchada e por imagens novas (conceitos e aviões). Água, barro e pele. Figuras que compõe uma estética da natureza, esta figura performática, de tecnologia e de sangue que escorre como vida pulsante. A natureza não é pura. É um vivido conflitante, vida para os mais íntimos.

O Cuipé hoje é de plástico (retirado do capacete automobilístico), ontem era de cabaça. O plástico dura mais. O tempo é mais veloz. O mercado volta os olhos para a cerâmica, ou o que dizem ser tradicional, um novo movimento se forma. Rostos alegres e tristes constroem uma paisagem subjetiva (desejo-crença, para os deleuzianos). O acabamento da peça é feito pela tampa de caneta marca texto. A cerâmica pronuncia uma voz que dialoga com o de fora. Uma expressão de como este lugar hoje se movimenta, uma família com novos vizinhos, alguns gostam, outros não, mas vem a necessidade da comunicação. Valores inflam o peito de muitos, e escurece a visão por raiva de outros. Estão cansados da exploração. Hoje dizem mais não dizem, como armamento no plano da língua (fala cotidiana com o “outro”).


Yan Chaparro - 2008


corpos que dançam

O barro é pintado com o Tauá, sua coloração avermelhada ou branca, permite um colorido particular, a cerâmica lembra coisas que acontecem no cotidiano, como um baile, como os bichos, como a casa ou mesmo como a pessoa dali. Quando alguém constrói uma peça, o corpo se contorce, seu movimento fica preenchido por dizeres manuais, para a permissão de algo como estado de coisa.

A cerâmica fica ao lado de uma pessoa do lugar, a semelhança é nítida, quase uma simetria, não aparentemente física, mais de desejo, de crença, de dizer sobre o movimento feito, de habitar. Lugar que habita o sujeito, como um diálogo que se movimenta na constância da modificação e da repetição. A cerâmica ganha uma vida significante, muitas mãos passam por ela, uma família inteira. Fica pronta, o personagem reage a sua concretude, o sentido de se contorcer é sinuoso, o movimento é como uma dança espontânea, “o barro sou eu” é aquilo que enxergo nos olhos do outro, e de um eu que é parecido comigo (me afirmo como um irmão), mesmo sendo diferente.

Os olhos são receosos. Cada afirmativa é camuflada como uma rasteira, lembrando uma ingênua pergunta (astucia), o sorriso aparece pela mesma concretude do personagem. O prazer é real, a ironia e artimanha também. As mãos, quando a cerâmica esta sendo criada, lembram passos que vão de um lado para o outro, com objetivos que se encontra (faz algo importante), o suspiro é inevitável, e a fala é o final, na verdade o amanhã e o ontem ao mesmo tempo, como imagens cortantes.

As casas não possuem muros. A dança não é inteira pela frente, os movimentos levantam uma poeira, que escondem imagens do corpo que também dança. Talvez mais alucinante e denso. E às vezes estas imagens aparecem junto a outras, quando é necessário. A cerâmica vem de muito tempo, não por um aspecto linear, mas por um dizer inventado, o tempo é como uma voz bem pronunciada ao entendimento de quem quer ouvir, às vezes é como um grito movido por um silêncio fatal. Lembro do nome resistência. O tempo é um jogo político, é a re-significação constante da memória, esta que coloca os pés no chão.

Um dia me perguntaram “porque você escreve sujeito-lugar?” demorei a responder, pois não sabia. Um dia encontrei a mesma voz que me perguntou. Falo sujeito-lugar, pois me refiro a um sujeito que está diluído ao mundo que o envolve, e corta a todo instante a pele deste, sabendo que o sujeito também corta a pele do mundo. A dança que vejo na cerâmica, a imagem que trago, diz sobre uma dança, relação interpessoal comunitária para uns. Cerâmica que é a construção de objeto, que é fala de e por um lugar, pois ao construir um objeto, esta se construindo no mundo, e este objeto, o ajuda a construir sua imagem neste mundo, um suporte talvez. Mas sim, uma arte. Sujeito.


Yan Chaparro - 2008

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

São Gonçalo - Beira Rio: apresentação

Bairro que tem mais de 280 anos e que traz na sua composição de mundo vivido a importância primordial da arte da cerâmica, construída por pessoas que trazem na sua teia de vida uma arte vinculada ao seu movimento histórico, cultural e familiar. Estar em São Gonçalo Beira Rio é se aproximar de um tempo diferente, de falas diferentes, que propõem um outro olhar para o que chamamos de mundo. A cerâmica é objeto vivo de extrema delicadeza e profundidade, pois cada figura estética não foge ao chão, e se comunica e negocia com muitos outros que passam por este lugar. Não é possivel falar muito deste lugar, pois ele mesmo já diz o que é. É necessário pisa-lo e senti-lo. Parafraseando Certeau quando diz que se perguntarmos a Beethoven para explicar sua musica, ele iria toca-la novamente.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

SÃO GONÇALO - BEIRA RIO

As fotos que seguem são desenhos narrativos que configuram estalos delicados da relação, experimentação e vivência em São Gonçalo Beira Rio, aspecto importante para a construção da pesquisa de mestrado denominada como "O centro que vem até aqui: um estudo heurístico em desenvolvimento local"*. Fotos que formam um tecido cotidiano do estar com o campo, de encontro com as artimanhas do lugar (espaço - tempo), emergindo discussões sobre cultura e diferença. Como Bhabha diz “indeterminismo” é a marca do espaço conflituoso mas produtivo, no qual a arbitrariedade do signo, do esforço de significação cultural emerge no interior das fronteiras reguladas do discurso social” (BHABHA, 2007), um esforço que define ao intelectual uma posição ético - político. Fica aqui um pouco do que foi possível escutar da particularidade de São Gonçalo Beira Rio.


*pesquisa em desenvolvimento local construída a partir de narrativas vivenciadas no bairro São Gonçalo Beira Rio, que se encontra na cidade de Cuiabá em Mato Grosso. Bairro que traz como posição política, cultural, economia e artística, a dança, suas festas e a cerâmica. Esta pesquisa traz a cerâmica e o cotidiano como objetos centrais do e com o campo.

São Gonçalo - Beira Rio


"a dança"*
2009

*foto retirada na loja da associação, cerâmica do ceramista Ozil.

São Gonçalo - Beira Rio


"ceramista"*
2009

*foto retirada na frente da casa de uma ceramista, na rua que beira o rio Cuiabá.

São Gonçalo - Beira Rio


"a festa"*
2009

*foto retirada do mastro de São Gonçalo a frente da igreja, um dia após a festa de São Gonçalo.

São Gonçalo - Beira Rio


"próprio"*
2009

*foto retirada de dentro da loja da associação, visualizando a janela que mostra a torre da igreja.

São Gonçalo - Beira Rio


"guardiães"*
2009

*foto retirada na frente da casa de uma ceramista, cerâmica da ceramista Cleide, que são as galinhas da angola.

São Gonçalo - Beira Rio


"o galo"*
2009

*foto retirada da rua central do bairro, que beira o rio Cuiabá.